Então, acordar de manhã bem cedo, sair para a rua antes que as lojas se abram, com poucas pessoas e certa névoa ainda no ar, para mim é indiscutivelmente
branco. Como são
alaranjadas certas noites de energia solta no ar, na mesa de um bar ou assistindo a algum show. Como são
verde bem clarinho certas tardes, principalmente as de inverno, quando há sol e, de repente, as coisas meio que param, infinitamente calmas. Há também momentos marrons: tentar trocar a fita corretiva desta máquina elétrica, coisa que nunca consigo fazer direito, embora consulte sempre as instruções. Esperar horas numa fila de banco, tentar atravessar a avenida Nove de Julho, em São Paulo, para mim, é completamente
marrom. Quando surge alguma irritação, então vira marrom riscado de vermelho. Mas,
vermelho total, só quando pinta ódio, vontade de gritar e bater. Filme de Stallone ou Schwarzenegger é vermelho – nada a ver com ideologia.
[...]
Todas as cores. Quem dera o meu, o seu, o nosso fossem assim também. Que
marrom não há de ser, nem
cinza-chumbo. Pois, quando eu daqui, você daí, tão vadio quanto eu, pára e lê – deve haver alguma
cor nisso. Espero que bem
clarinha.
Caio Fernando Abreu
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